quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Uma Pausa

O voltar para casa sempre me é motivo de um certo desconforto. No caso, sendo isso visitar a minha mãe e meu irmão na minha cidade natal. Por vários motivos, claro. Lembro-me de responsabilidades que não são bem minhas, mas que acabam ficando no meu colo. Memórias de um período importante, com muitas alegrias e muitos dramas. É uma coisa muito louca. Me causa uma ansiedade enorme. Um aperto no peito muito grande. Sinto aquele cheiro de terra molhada depois da chuva de verão, as ruas me contam histórias passadas. Fachadas tão familiares.

Sinto muita falta de alguns amigos que não estão mais lá, assim como eu. E, embora tenha mudado muito e, certamente, para melhor, não posso evitar sentir saudade de mim. Daquele momento de construção. De entrega e criação.

Da família, dos mais próximos, eu mato a saudade. O suficiente para me incomodar com as coisas de sempre, para discordar com a forma de minha mãe se colcoar diante à vida, para tentar passar para meu irmão um olhar melhor, a atenção que ele precisa. Também tento ganhar o carinho que preciso. Geralmente fico dois meses sem ir... às vezes, três. Passei 10 dias em dezembro lá, voltei dia primeiro de janeiro. O tempo de validade padrão está estourando. Vou para lá amanhã, já que tenho que resolver pendências burocráticas. Quando resolvi ir, percebi que estava com saudade. O coração começou a apertar, foi inevitável.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Abrigo

Tenho assistido alguns filmes nas últimas semanas, os quais descobri através dos blogs de alguns de vocês. Assisti uns curtas também. Alguns achei idiotas, mas outros compensaram muito. Um filme em especial me chamou a atenção: Shelter - De repente Califórnia.
[Pausa para o questionamento eterno: por que estragam os nomes dos filmes nas traduções?]


Enfim, talvez pelas similaridades da minha vida com a vida do Zach, esse filme mexeu muito comigo. A contante tentativa quase involuntária de resolver os problemas familiares, o irmão sobrinho que é quase um filho, nosso íntimo se mostrando mais forte do que qualquer coisa. Achei o filme fantástico. Acho que com uma verba infinitamente menor que O Segredo de Brokeback Mountain, ele passou o recado muito melhor, de forma muito mais emotiva e real. Mostrou uma amizade que se transforma em amor, o olhar que vira um primeiro toque impensado que leva ao primeiro beijo e daí pra frente. O filme apresenta uma evolução pessoal dos personagens muito legal. Recomendo muito. Fora isso, impossível não falar da trilha sonora excelente. Sempre presto muita atenção na música, como já disse em posts anteriores sou movio a música. Deixo aqui o link da wikipedia onde tem a lista para quem quiser baixar.

Mas, não paro por aí. Gostaria de levantar alguns pontos específicos:

Shelter. Abrigo. Achei o nome fantástico porque é simples e responde tudo. Não é isso que todos procuramos, abrigo?

O conjunto de cenas ao som da música Lie To Me é incrível. Vi poucos filmes que retratassem aqueles momentos de amor e intimidade com aquela realidade. Sem falar que a música é demais..

A relação entre o Zach e a namorada dele, a amizade que é tão grande que chega a se confundir com amor. Já passei por isso e, com certeza, falarei em um próximo post.

Deixo, por fim, a música Lie To Me - Shane Mack, a minha favorita do filme.


Abs

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Conversas vazias

Pelo visto, não tem jeito. Esse vai ser um final de semana "meu querido diário".
Como todo bom apreciador de uma cerveja gelada, eu sou desses que adora estar em um boteco bebendo com uma tábua de frios especial junto com os amigos.

Os comentários do post anterior me fizeram pensar muito. Fiquei me perguntando até onde vai a minha fantasia e meu medo que meus amigos e minha família não me aceite. A exceção do meu melhor amigo, hoje em cidade diferente da minha e com pouco contato comigo, que é bastante preconceituoso com homossexuais, meus amigos (os de verdade) são bem mente aberta. Até que ponto eu iria chocar eles tanto? Será que sou tão poderoso? Não né? Talvez mais narciso mesmo...

Ontem estávamos em um boteco com mesas na rua, único lugar possível de tolerar o calor que fazia, e era um casal de amigos, uma amiga e eu. Ele (que atualmente tem o posto de melhor amigo, já que acabei me afastando por outros motivos do acima citado) e eu temos um ótimo relacionamento. Sou amigo dele porque era amigo da namorada e acabamos nos aproximando bastante. É um cara sensacional. É muito comum entre nós, assim como entre todos os "heteros", nos chamarmos de gay pra lá e gay pra cá. É extremamente natural. Quase inocente.


Eu sou o mais sensível em um grupo de guris, geralmente. Fizemos testes psicológicos na empresa onde trabalho e minha maior pontuação foi no item afetividade, ou seja, é de senso comum que sou mais emotivo. Como toda pessoa mais emotiva (e será que só isso?), tenho uma tendência a gostar de coisas um pouco diferente de outros homens. Desgostar também. Por exemplo, não tenho o menor saco pra futebol. Adoro seriados, e isso inclui os de guriazinha também. O que quero dizer é que é muito normal ouvir dele: "ah, que gayy!!" e damos risada. No bar ontem, em meio a algumas cervejas, não sei o que se falou e a situação aconteceu de novo. Pela primeira vez ri e senti ironia em mim. Fiquei pensando no quanto ando evitando nossos happy hours (que eram frequentes entre eu e ele). No quanto eles me faziam bem e agora me fazem sentir que estou mentindo. As conversas me soam vazias. O único motivo para isso é que não estou sendo eu mesmo. Tenho sentido muita vontade de conversar com eles. Mas, ainda não é hora. Acho que vai ser mais tranquilo quando eu estiver mais seguro de mim, mais acostumado com tudo que tem mudado. Então, sempre me controlo e penso duas vezes. E aguento mais 24 horas. Como um AA.
Minha amiga acaba de me convidar pra tomar uma cerveja. Tenho vontade de ir, mas não quero mais uma conversa vazia com uma pessoa que não me conhece. Que vontade de me apresentar...

Mas, será?

E vocês, já passaram ou passam por isso?

Abraços e uma ótima semana a todos.

Chico

Decorrências

Todos sobreviveram ao carnaval pelo que andei lendo. Cada um com seu caso à parte, mais recluso ou mais exposto. Que bom. Eu também, com coisas boas e outras nem tanto. Disso, falo em outra hora. Mas, sabemos que tudo tem consequências e, quando olhamos para dentro, mudamos inevitavelmente.
Como disse no começo do blog, no primeiro post, meu motivo aqui é explorar a mim mesmo, conhecer pessoas e histórias, algo que acho incrivelmente eficiente no mundo dos blogs. Quem está aqui é, via de regra, diferente. Posto isso, gostaria de dizer que não quero aborrecê-los com minhas histórias em um sentido "meu querido diário", mas sim falar sobre situações que são recorrentes na vida de muitos. Isso, através das minhas histórias. Mesmo que não sejam muitas.
Em 2011 se iniciou um processo em mim que só viria a compreender um ano depois, após muitos erros e derrapadas que me prejudicaram profissionalmente, inclusive. Esse processo foi e tem sido doloroso, mas alguma coisa em mim mudou no fim do ano passado. Olhei para dentro e me enxerguei, finalmente, como alguém que merece mais do que tem e do que se permite ter. Para quem não leu o primeiro post, estou falando da minha sexualidade. Sexualidade a qual, neste momento, prefiro não rotular.

 Solidão. Ele sentia uma solidão muito grande. O fim de semana era mais do que descanso, tanto a mais que não teria como chamar de descanso. Era um momento em que dementadores surgiam, se aproveitando do seu medo e da sua ansiedade. Ele ali, sozinho com seus fantasmas, frágil e sem norte. Sem conhecimento do que guardava o futuro. Era uma crescente negativa, que minava a mente e enfraquecia o coração. Como ditos populares não existem por nada, pode-se usar aqui o "não há mal que dure pra sempre". Não há. Alguma coisa mudou e 2013 começou diferente. Muito diferente.
 


Solidão? Ele não sente mais. Incrivelmente, ela foi trocada por um sentimento de força e inspiração que existiam fortemente até há alguns anos. Como se tudo voltasse ao equilíbrio antigo, internamente. Só que de uma forma totalmente nova e diferente. Os dementadores estão enfraquecidos e em menor número. Tudo que antes incomodava muito, mal dá uma coceira agora. Tudo que dava medo antes, chama mais a atenção agora e frustra quando não vem na intensidade que se gostaria.
Isso tudo tem sido notado, de maneiras variadas. Colega de trabalho comentam de seu senso de humor aguçado, amigos estranham sua mudança de atitude, familiares estranham o afastamento natural que antes nunca fora dado. Relaçoes antigas surgem para uma conversa e comentam "tá mais feliz, hein? quem te viu e quem te vê". É verdade e não é fortuito. É decorrente de um diferente olhar. Para dentro, que é onde importa ver. É onde está a razão de se gostar de alguém além do período que a paixão pela beleza física dura. É onde encontramos nossos princípios mais básicos. Onde estamos em nosso essente ser.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Repressões de pai

Desde que me conheço por gente, lembro da insegurança que meu pai sentia a respeito de minha sexualidade. Acho que tudo começou quando se separou da minha mãe. Eu era uma criança de 5 anos. Eles, outras duas de 28 e 29. Ela, sempre opiniática e adepta de uma postura rebelde, fruto de uma família prejudicada e atormentada pela precipitada morte da minha avó. Uma história verdadeiramente difícil que viria a trazer muitas consequências. Ele, um radical sensível que trocava tudo e todos por uma noitada, fruto de um lar psicologicamente adoentado e um relacionamento que virou de pai e filho apenas aos seus 18 anos para durar apenas 5 até meu avô falecer após um longo e doloroso processo de AVC.

Quando se separaram, fui morar com minha mãe, que por sua postura de afronta ao mundo, sempre foi uma pessoa "pra frentex" e sempre teve muitos amigos gays. Para desespero do meu pai, claro. A partir daí, vinha sempre o ritual perturbador do final de semana, as culpas não esclarecidas de abandonar a mãe misturada com a vontade imensa de passar o uns dias com meu pai.

Um papo era certo no final de semana: "tua mãe não fica levando veado para dentro de casa, né??"
Dizia que não, um misto de querer protegê-la com um incômodo tão grande com aquele tom desmerecedor com pessoas que eu simpatizava. "Por que tu estás dizendo 'ai'? Não tens que imitar a tua mãe." E por aí íamos. Difícil. Nem sabia o quanto direito.


Nas vésperas de fazer 10 anos, ele foi embora da cidade. Lembro até hoje da dor que senti quando fiquei sabendo que irita tomar tamanha distância de mim. Me encho de lágrimas de lembrar daquela tarde em que ele e minha mãe (já com a relação excepcional que possuem até hoje) conversavam e ela comentou "ele sabe que é importante para ti, ele entende". Queria apenas gritar, deixar-me levar aos prantos. Não queria entender! Talvez tenha sido meu primeiro momento de grande força.

Nos dias seguintes, a dor se acomodou e deu lugar a um certo alívio. Não mais seria podado por qualquer "ai" ou qualquer trejeito que me era, imediatamente, cortado por ele. Daí para a frente veio um período que, a respeito de memórias do que sentia em relação ao meu pai, não consigo lembrar. Não lembro. Foram 3 anos até ele voltar, e um período que muita coisa viria a acontecer.


Veio a adolescência. Veio a namorada. Veio a paz! Que paz ele sentiu com aquele namoro. Não demoraria muito até a duradoura relação virar incômodo também. Tinha tanta mulher no mundo... Mas, o namoro acabou. E, desde então, aguarda cenas do próximo capítulo. Hoje, com uma atitude tão amadurecida que mete medo. Quem é esse pai que tem se mostrado tão aberto e disposto a me conhecer?

Hoje, a insegurança é minha... quem sou eu?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Eu, meu eu lírico e a música

Essa é uma das melhores músicas deles.



Eu e a música. Fui criado no meio musical. Pais festeiros, pais jovens. Pais centrados em si. Observei muito. E acabei levando a música comigo. Não a deles, claro. Aliás, coisa que foi difícil de ser entendida na família e pelos amigos. Cresci sendo apresentado aos amigos e a frase seguinte ao "oi" era: "E o que tu toca?" A vontade que eu tinha era de responder: "Dedo no cu de curioso." Mas eu era (e sou) o educado da família.
Enfim, cresci. A pergunta idiota passou, nunca entendi o por que da insistência. Por que eu tinha que ser igual? Acho que nunca fui muito compreendido. Sempre fui a ovelha branca na família. Isso era a ovelha negra, no caso da minha. Ainda é! Com a diferença que não me acho ovelha branca. Sou normal, tenho falhas. Mas, sou trabalhador, honesto e não dou muita trela pra quem não quero.

Desviei do assunto.

A música me acompanhou. Tenho problemas com o silêncio. Ele me assusta, então, a música tá sempre ligada. Acho que eu me escuto quando tô em silêncio e isso me dá medo. É estranho, é angustiante e pacífico ao mesmo tempo. Deve ser meu eu lírico. Quando ele aparece, tudo muda. Ele tem me visitado, ultimamente. O caos se instala. É maravilhoso e excitante.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Uma dose "homopática"

Ontem senti medo da homofobia. Nunca tinha acontecido antes.
Como já falei, ainda estou em um processo de autoconhecimento e não consigo me definir exatamente. Particularmente, sou contra rótulos. Somos todos seres sexuais, para qual lado ou lados rola a atração não interessa muito. Mas, enfim, ainda vivo no meu restrito círculo de amigos que de nada desconfiam. Ou quase nenhum desconfia (deixamos isso para outro momento).

Eis que ontem iria tocar uma banda que sou muito fã aqui em Porto Alegre e fui com meus amigos. O fato é que desde que alguns acontecimentos, que ainda não relatei aqui, tiveram certa importância na minha vida e passei a aceitar quem eu sou a ponto de querer ir a fundo e dar um foda-se e ser feliz, eu tenho me sentido EXTREMAMENTE feliz. Isso se reflete no meu comportamento, obviamente. Ontem, estava eu belo e dançante, exalando sex appeal pelos poros e chega um casal, nitidamente fora do seu ambiente usual. Ele, um brutamontes feio e de cara amarrada, agarrado nela, piriguete cara de suburbana (redundante?). Sem oi, invadiram o espaço da nossa roda e começaram a "dançar" empurrando quem estivesse por perto. Eu, por supuesto. Imediatamente, ele começou com um olhar que mandava apenas uma mensagem: sai da minha frente que eu vou te bater. Indignado, permaneci e parei de dançar, ficando fixo para manter o meu lugar. Desisti, pois em algum momento eu iria ser derrubado. Mais, adiante na noite, o cara fez a mesma coisa com o meu amigo. Acabamos nos reorganizando, mas o cara estava atrás de briga. Talvez quisesse se mostrar para a sua fêmea. A festa continuou.
Em um dado momento, começou a tocar I Will Survive. (E, é nessa hora que a gente se entrega, rsrsrs.) Mesmo na versão do Cake (fantástica, aliás). Conforme minha empolgação começou a me tirar do chão, meu olhar se deparou com o do cara, que estava esperando para ver como eu iria reagir à música. Foi perceptível. Nessa hora, olhei para uma amiga e disse: "acho que ele vai me bater, ele é homofóbico na certa". Juro que senti um pequeno medo. Que revolta.

Nunca havia visto nada parecido aqui em Porto Alegre, pelo contrário, acho que as coisas aqui são/estão muito naturais já. Claro que tem uma longa estrada a ser percorrida. Mas, comparando ao que se vê por aí...

Meu ponto é, sempre estaremos expostos a esse tipo de gente. Não só os gays, mas todo e qualquer grupo desperta sentimento de oposição em alguém.

Achei oportuno fazer esse post, pois, coincidentemente, ontem o N.B. fez um post sobre os gays e o quanto a sociedade, cidade e familiares e amigos influenciam nos seus armários. Mesmo nos lugares mais abertos sempre teremos os extremistas. Acho que a chave do nosso armário nunca está muito longe. As nossas cidades, os nossos mundos não diferem muito. O que difere é a nossa visão de mundo.

Abraço